domingo, 8 de setembro de 2013

A dor do racismo

Quando ser negra vai além de uma questão de pele...

O racismo me calou durante anos. Calou-me através da timidez, da baixa estima, dos cabelos alisados ou do ferro no cabelo na beira do fogão, calou-me através das roupas, das bonecas brancas de bocas rosadas e barbies louras. Calou minha inteligência, minha coragem e meus desejos. O racismo não deixou ver minha beleza durante anos, escondeu meu sorriso, não me deixou ser doutora, nem atriz ou modelo, me fez não querer tentar ir às bancadas ou reportagens do telejornal, me fez acreditar que sou incapaz, ou “burra” e feia. O racismo me fez durante anos enxergar um cabelo ruim, me fez chorar, odiar minha pele e meu nariz, fez me esconder no fundo da sala de aula, não querer namorar, fugir dos homens e acreditar que “aquele olhar não era pra mim” ou que eu não seria pra casar. O racismo me fez acreditar que nunca vou conseguir e que aquele palco não me pertence. O racismo trouxe-me tanta dor, tantas lágrimas que hoje são transformadas em uma única palavra: RESISTÊNCIA!

Ao acordar enfrento o racismo cruel no trabalho, na rua e na escola. Enfrento o racismo do olhar, o verbal, imaginário e disfarçado. Enfrento o racismo em uma cidade negra que carrega uma cultura do preconceito, do cabelo liso, da sexualidade da negra, roupas “da moda” e uma cidade que diz que “seu lugar não é aqui, sua neguinha” e que “candomblé é coisa do diabo”.

Sou negra, jornalista, agente comunitária de saúde, soterocachoeirana, amo o meu cabelo crespo, meu nariz, sou linda e me visto como eu amo, adoro turbantes, samba de roda, faço capoeira e para mim ser negra é muito mais do que uma questão de pele. Todos e todas somos iguais, mas só quem é negro/negra sente a dor da chibata nas costas. Chorar não alivia a dor. Enxuga essas lagrimas, levanta e vamos a luta!

RESISTA, NEGRO! RESISTA, NEGRA!

3 comentários:

Cabaret das Letras disse...

Adorei seu texto, moça bonita. Fiquei arrepiada, senti a sua dor como minha dor em cada palavra escrita e descrita. Estamos juntas, resistindo sempre. Você me representa. Parabéns!

Dona de Mim disse...

NEGROS/NEGRAS É O QUE SOMOS. NÃO DÁ E NEM QUEREMOS MAIS DISFARÇAR. SOMOS LINDOS, CAPAZES E FORTES. E SOMOS MERECEDORES DE TODO RESPEITO E OPORTUNIDADES QUE TODO SER HUMANO TEM.
PARABÉNS POR SUA RESISTÊNCIA!

Nayara disse...

Amei seu texto e e me identifiquei em diversos trechos dele. As vezes imagino minha adolescência com a impressão que tenho de mim hoje. Com a força minha cabeleira crespa, natural e livre me dá. Já consegui desconstruir muito do racismo em minha família e hoje minha mãe olha meu cabelo acha bonito.



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