sábado, 27 de abril de 2013

Para além da televisão: Eu sou o meu padrão de beleza


“Nossas crianças sonham que quando crescer, vai ter cabelo liso”
Isso não pode se perder – Emicida

Cachoeira, 27 de abril de 2013

Meu cabelo é minha coroa que carrego desde a infância.

A televisão nos ensinar a desejar padrões de beleza e consumo que muitas vezes não nos representam. O desejo por aquilo que está na TV nos faz pensar que talvez sejamos mais aceitos pela sociedade, pelos amigos e amigas, por um homem ou uma mulher que temos interesse ou que assim vamos conseguir um bom emprego.

Sinto que é na adolescência que esta influência é mais presente. Principalmente nas propagandas de shampoos e produtos de alisamento e nas novelas e séries. Mulheres lindas, brancas, cabelos sedosos, lisos e brilhantes. Aí você - que também quer ser linda como as mulheres e garotas da televisão - alisa os cabelos. Nossas mães apoiam porque elas também foram influenciadas por este processo. Possa ser que não pela TV, mas talvez pela fala de nossas avós, que seguiam o estilo das sinhás.

São padrões de beleza que estão na mídia e que nós mulheres tanto almejamos: peitos fartos e duros, bundas grandes, corpos magros, “de violão”, cabelos lisos, unhas grandes e bem pintadas, sobrancelhas finas, corpos depilados e roupas caras.

Na minha adolescência busquei também estes padrões. De três em três meses “relaxava” meu cabelo com produtos de alisamento para “abaixar a raiz”. E cresci acreditando que assim seria mais aceita por quem quer que seja. Por mim e pela sociedade (que sociedade afinal?).

Mas ainda não era tudo tão completo porque sofria com mais alguns problemas na aparência: ser baixa e magra, ter o nariz grande e peitos pequenos. Enquanto a ser baixa eu não podia fazer nada, apenas usar saltos – mas eu nunca gostei, pois para mim é totalmente desconfortável. Magra eu sempre fui, mesmo comendo uma montanha de comida, mas tomei estimulantes de apetite para engordar (o que não resolveu muita coisa). O nariz eu dizia que a primeira grana alta que eu tivesse faria uma cirurgia para afinar. E os peitos tinham uma solução. A melhor invenção de todos os tempos: o soutien de bojo! O problema com os peitos pequenos acabaram, pois eles poderiam ser “grandes” com um soutien de enchimento que me deixava super poderosa!

Cabelos – A transição

Certo dia olhei-me no espelho e vi que a raiz crespa (a natural) do meu cabelo crescia. Olhei-me, sorri e decidi: alisamento nunca mais! Pensa que a decisão foi fácil? Não foi!

Tomar essa decisão causou um desconforto na minha família e entre os/as amigos/as e conhecidos/as que virou motivo de burburinhos durante meses. “Não vai relaxar este cabelo?”, “Está feio!”, “Nem parece que você lava esse cabelo”, “Vai pentear este cabelo, menina!”, “Fulano disse que seu cabelo está feio”, “É só para abaixar a raiz”, “Por que não dá um produto para soltar os cachos?”, “Tem um aspecto de sujo”, “Nenhum homem vai lhe querer com este cabelo”. A última frase ficou marcada para sempre em minha memória e me causou muitas lágrimas. Por diversas vezes pensei em desistir de deixar meu cabelo natural e voltar ao padrão quer era seguido por quase todas as mulheres da minha cidade e família (que tinham cabelos crespos).

O cabelo black é o meu padrão de beleza.
Não foi fácil, repito. Não foi fácil porque diversas vezes me senti frágil e porque aprendemos um padrão de beleza que nos diminui enquanto mulheres negras, crespas e sem peito. Mas dei a volta por cima e resisti. E resisto até os dias de hoje! Meu cabelo crespo e black não é inferior a qualquer outro cabelo. Ele é lindo e é a coroa que me faz ser essa rainha que sou. Porque todas nós somos rainhas.

Peito pequeno – A aceitação

Porque eu tenho o peito pequeno? Sempre me perguntei, pois via minhas amigas e colegas de sala com peitos fartos e lindos. A invenção dos soutiens de bojo foi a cartada para resolver o “meu problema”. Tenho diversos modelos, para se adaptar a qualquer tipo de roupa e eu me sentir cem por cento melhor.

Mas então percebi que aquilo tudo era falso e eu estava mentindo para mim mesma. Qual a dificuldade em me aceitar? Daí para frente deixei de escanteio os soutiens de bojo e passei a me aceitar mais, com meus peitos pequenos e lindos, que seguem ao meu padrão de beleza – que vai além da televisão.

Um dia uma amiga me perguntou: “Por que você agora só anda sem soutien?”. Respondi que me sentia melhor assim e sorri para ela. Mas bem que poderia criar um novo manifesto Bra-Burning e queimar todos os soutiens e demais elementos de “tortura” que nos fazem seguir padrões de beleza.

Hoje estou nesse processo de aceitação do meu corpo e não permito que nada me coloque para baixo. Mulheres!, não precisamos ser como nos dizem que devemos ser, mas precisamos ser como somos, lindas da nossa maneira, com o nosso padrão de beleza que nos diferencia e nos fazem ser belas e rainhas!


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