sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Feminismo e multiculturalismo

Como estabelecer direitos à mulheres em uma sociedade multicultural?

Lorena Morais

Durante muitos anos e até hoje a mulher é vista, ou melhor, não é vista como sujeito atuante da esfera pública. As relações capitalistas de produção encarnadas no trabalhador assalariado ou no burguês considera a mulher um ser invisível e não atuante. O mundo público possui carater estritamente masculino.

O movimento feminista surge para reivindicar a participação da mulher na esfera social, a busca pela independência, direitos trabalhistas, participação na política e entre outros fatores. Seu movimento organizado surge nos Estados Unidos, na segunda metade dos anos 1960. Simone de Beauvoir é considerada um ícone do feminismo, principalmente por sua literatura. Foi considerada um modelo de mulher liberal moderna.

O primeiro grupo organizado no Brasil surgiu na época da ditadura. Se alguns homens tinham que se calar nesse regime, quanto mais as mulheres. Eram vistas através das atividades sociais impostas e sem valorização, como criação dos filhos e a "dona do lar". Em 1972, na cidade de São Paulo, nomes como Célia Sampaio, Walnice Nogueira Galvão, Betty Mindlin, Maria Malta Campos, Maria Odila Silva Dias surgem como o  primeiro grupo feminista organizado no país.

Uma garota da tribo indiana padaung e movimento feminista
na luta pelo direito ao voto. Imagens: Google
Para além dessa invisibilidade da mulher, ela é vista como o Outro na sociedade - e não sujeito. Existe ainda as categorias da mulher Ocidental, o "Outro", e a mulher Oriental, o "Outro Outro" -, já que representa o Outro colonizado. Mas os povos colonizados também participaram do processo histórico - assim como as mulheres - como sujeitos da história que estrutura a modernidade capitalista. O Oriente também é considerado "fora" da construção da esfera social.

Além dessa reflexão da situação da mulher nos países ocidentais e da atuação do feminismo, busca-se criar compreensão e conhecimento sobre a vida das mulheres e relações de gêneros em outras partes do mundo.

Existe uma grande disparidade da mulher Ocidental, que é vista como libertária, e a não ocidental, submetida a controles civilizatórios de domesticação. Esses elementos orientais caracterizam um discurso de uma “cultura original” fantasiada, que rotulam uma posição de poder a certos valores e práticas considerados essenciais para a preservação de uma cultura. E ao mesmo tempo existem elementos que não podem ser questionados ou problematizados. Como julgar a mulher que usa burca, permitindo a ela  mostrar seu corpo e rosto perante a sociedade, se para ela é uma afronta a essa ruptura de valores? Como dizer a mulher da tribo padaung que não devem usar os anéis no pescoço (porque pode ser prejudicial a sua saúde) se é seu conceito de beleza?

Por esses aspectos culturais, a teoria feminista enfrenta dificuldades ao tentar sustentar um discurso crítico em outras partes do mundo e no contexto atual. Mas hoje temos uma crescente literatura que aborda a partir de uma visão feminista multicultural ou pós-colonial, reconstruções das interpretações da história. O discurso feminino não é puro e nem perfeito, ele pode avançar de acordo com as contradições e tensões próprias e principalmente do mundo social ao qual pertence.

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Referências

ADELMAN, Miriam. Reformulando narrativas. In: A voz e escuta: encontros e Desencontros Entre a Teoria Feminista e a Sociologia Contemporânea. São Paulo: Blucher Acadêmico, 2009.

BETTO, Frei. A marca do batom: como o movimento feminista evoluiu no Brasil e no mundo. Disponível em <http://alainet.org/active/1375&lang=es>

_________. Padaung. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Padaung>

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